quarta-feira, 22 de julho de 2009

Diário do Maldito



O espetáculo Diário do Maldito é resultado de dois anos de pesquisa acerca da vida e da obra do dramaturgo Plínio Marcos. O processo criativo teve início em outubro de 2004 e a estréia no Teatro Oficina do Perdiz em novembro de 2006, um espaço marginal da cidade onde, há mais de vinte anos, funciona uma oficina mecânica e um teatro.
Plínio Marcos, um dos maiores expoentes da dramaturgia nacional, incorporou o tema da marginalidade na cena brasileira em textos de desconhecida violência para o teatro da década de 60. Na sua obra, os “marginais”, são retratados como gente na boca de cena, com direito a vez e voz. A opção em falar da “banda podre do mundo” o tornou conhecido como o “autor maldito” do teatro brasileiro, jargão que nunca o incomodou, já que reconhecia na vida dos excluídos a extensão de sua própria vida e a matéria prima para as suas histórias e personagens.
Para o pesquisador Paulo Vieira, no seu livro Plínio Marcos a Flor e o Mal, é possível identificar três fases distintas na obra de Plínio. Procuramos percorrer no processo de pesquisa essas três dimensões e, acreditamos que Diário do Maldito, de alguma forma, também consegue expressar essas diferentes fases:
“A primeira fase pode ser chamada de constatação (...) Plínio Marcos constata a existência do mal na sociedade. A segunda fase compreende os musicais (...) A terceira fase, chamá-la-emos de proposição. (...) obras cujos temas apontam para o misticismo, (...) como se o autor propusesse a via do espírito para a superação da condição humana".
A partir desse itinerário explicitado na obra do autor paulista, o Teatro do Concreto, durante o longo período de pesquisa teórico-prática, reuniu cerca de oito horas de cenas e improvisações a partir de investigações em espaços de Brasília como feiras, rodoviária, terreiro de candomblé; estudo de arquétipos; textos do Plínio; entrevistas com amigos do dramaturgo; informações sobre o samba paulista; entrevistas com personagens reais retratados em sua obra, como prostitutas e carcereiros. Além disso, foram explorados textos e crônicas do autor que ofereceram um universo pouco conhecido da maioria do público, como é o caso de “O prisioneiro de uma canção” e “Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos”.
O material cênico criado a partir desses estímulos diversificados, a estrutura do texto e demais elementos da cena foram selecionados e aprimorados. Um processo que passou por quatro etapas de ensaios abertos com o público, apelidados pelo grupo de “cena concreta”. Oportunidades onde o diálogo da obra, com o seu último criador (platéia), indicaram caminhos para ajustar a dramaturgia e até excluir cenas que se mostraram redundantes.
Questões que envolvem a estética, a biografia de Plínio Marcos, a conexão de sua obra com Brasília e o que queremos dizer ao público a partir dessas reflexões, foram apenas algumas das indagações que os criadores do Teatro do Concreto se fizeram durante essa pesquisa e que de alguma forma perpassam as cenas e textos criados. Por que Plínio? Pra quem é o nosso teatro? Quem é o seu povo? O que significa ser artista em Brasília? O que te indigna? Como se faz na aldeia do desconsolo? Qual a atualidade da dramaturgia pliniana?
Foi esse fazer investigativo, de tentativas, erros e acertos, que possibilitou a criação de uma dramaturgia própria, que também integra algumas citações de textos do dramaturgo. Assim nasceu o nosso Diário do Maldito, e todas as noites quando entramos em cena, a obra e a vida de Plínio Marcos não é o nosso texto oficial, mas um pretexto para construir, com o público, um diálogo vivo sobre o homem, a função da arte e o papel do artista contemporâneo. Como dizia o próprio Plínio, “o mundo nunca precisou tanto dos poetas, como agora”.


SINOPSE: O público é recebido num bar onde conhecerá diversas histórias e personagens que descrevem a trajetória divertida e comovente de um Poeta. O espetáculo traz a tona à incerteza de um artista que dedicou anos a fio a escritos de denúncia social – agora, pensa em parar de criar. Inconformados com a situação seus personagens invadem a cena para cobrá-lo.

FICHA TÉCNICA

Espetáculo: Diário do Maldito
Criação: Teatro do Concreto
Direção: Francis Wilker
Assistente de Direção: Ivone Oliveira
Dramaturgia: Juliana Sá
Consultoria Artística: Tiche Vianna
Elenco: Aline Seabra, Alonso Bento, Gleide Firmino, Jhony Gomantos, Maria Carolina Machado, Micheli Santini, Nei Cirqueira, Robson Castro e Silvia Paes
Músicos: Daniel Pitanga, Igor Guilherme, Janari Coelho e Regina Neri
Coordenação de montagem e operação de luz: Zizi Antunes
Ambientação Cenográfica: o grupo, com a colaboração de Isabella Veloso e Leonardo Cinelli
Desenho de Luz: Marcelo Augusto
Fotos: Alexandra Martins, Tatiana Reis e Thiago Sabino.
Figurinos: o grupo, com consultoria de Cyntia Carla
Assistente de Produção: Hugo Cabral
Cenotécnica: Lisbeth Rios

O espetáculo faz referência aos seguintes textos de Plínio Marcos: Navalha na Carne, Prisioneiro de uma canção, Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos em Osasco.

PRÊMIOS
Festival Nacional de Teatro de Macapá - 2008
melhor espetáculo
melhor cenografia
Indicado nas categorias de melhor direção, ator e atriz.

Prêmio SESC do teatro candango - 2007
melhor atriz
melhor cenografia
Indicado nas categorias melhor ator e melhor figurino.

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