segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ENCONTROS ESTÉTICOS - CICLO DE DEBATES

DEBATE COM GRUPOS DE BRASÍLIA SOBRE PROCESSOS DE CRIAÇÃO - PROJETO ENCONTROS CONCRETOS


Vai! Vai fazer, do chão não passa!
Brasília, dia 25 de setembro, pouco mais de 10h da manhã, tempo bem seco, todo mundo carregando um baita desejo de chuva. Estamos no foyer de entrada do Teatro Funarte Plínio Marcos, no gramado distante o grupo Batalá ensaia e enche o espaço de seu percussivo e contagiante som.

Numa roda, comandada pelo nosso acolhedor Nei, estão fazedores e fazedoras de teatro, de um teatro alicerçado na idéia de coletividade. A primeira a falar foi Maíra ou como vem sendo chamada aos poucos “Maíra Pára-raios”, é isso mesmo, a mulher aparentemente frágil é um poço de força e determinação, carrega no corpo a herança de ser filha de Ary Pára-Raios, o fundador de um dos grupos mais importantes de Brasília, o Esquadrão da Vida, criado em 1979 e que faz da rua o seu imenso palco dos sonhos e da alegria. 

Depois de Maíra, com tanta história pra contar, ouvimos Laércio falar sobre a arte do Voar Teatro de Bonecos, um grupo do Gama que se dedica a moldar látex, panos, arames, madeira e criar vida com isso...vê se pode?! É isso mesmo, bonecos que nascem no Gama, das mãos de homens e mulheres que ali vivem e trabalham e que estão encantando o Brasil todo. 

Alice e Rachel seguiram a roda de conversa apresentando o trabalho do recém criado Teatro do Instante, que se dedica a pesquisar o trabalho do ator, a partir de diferentes técnicas, muitas delas com forte influência oriental. Atualmente o grupo está finalizando processo de pesquisa e montagem a partir da obra de Clarice Lispector, numa perspectiva de trabalho que procura construir uma encenação bastante multidisciplinar.

O último grupo a contar sua trajetória e aspectos do seu trabalho foi o Trincheira CIA de Teatro, na voz de Sérgio, Celma e Tainá. O grupo carrega nas veias a emoção da pesquisa sobre o estudante Honestino Guimarães, morto durante a ditadura militar e até hoje tratado com displicência pelas instâncias governamentais. Além de falar sobre a pesquisa, o grupo compartilhou também das crises inerentes a esse fazer grupal, desafios que exigem força na vontade de permanecer junto criando.

Eu fiquei ali num cantinho ouvindo, anotando o que dava conta, depois comecei a falar e já não consegui registrar muito mais.... mas, acima de tudo, senti tanto orgulho dessas diferentes vozes, que, como o Concreto, seguem fazendo realidade o desejo de fazer teatro, de fazer teatro junto com o outro, de superar desafios financeiros, relacionais, afetivos, políticos, estéticos. Eita, fazer teatro é uma escola de fazer gente!

Pra quem não pode estar...segue aí alguns fragmentos que consegui pescar nesse mar de força e sonho! No final da conversa rolou uma super discussão sobre o papel do(a) diretor(a) de teatro, questões instigantes, polêmicas, ricas, mas...não consegui anotar. O título acima, vem de uma fala da Maíra...acho que é um eterno convite a superar desafios!

FRAGMENTOS DE UM DEBATE  [Formas de criar e se organizar coletivamente]
“O pai era meu mestre, eu carrego essa história, a minha história é o Esquadrão”.
“O Esquadrão tem a cara de Brasília, toda vez que a gente se apresenta eu sinto isso”.
“O Esquadrão da Vida faz a gente ser diferente”.
“Trabalhar com acrobacia é lidar com os nossos medos, todos eles”.
“Fazer teatro de rua é também uma postura política”
“A história do Voar só faz sentido na história do teatro de bonecos do Gama. Lá temos cerca de 7 grupos de teatro de bonecos, cada um com suas especificidades”.
“O nosso trabalho é pela prática, experimentando formas de manipulação, de criação dos bonecos”.
“Uma discussão atual é a sustentabilidade do grupo, porque ninguém quer que o grupo acabe”.
“A gente nunca escolhe a técnica previamente, pegamos o texto e vamos experimentando”.
“Hoje estamos trabalhando com confecção de bonecos de látex, que tem um diferencial na qualidade dos bonecos”.
“A gente adotou uma política que é enviar projetos para todos os editais, tendo chance ou não”.
“A organização do grupo foi um ponto importante para atingirmos a visibilidade que estamos tendo”.
“Uma coisa que a gente se orgulha muito é de ser do Gama, desenvolver o nosso trabalho lá, com moradores de lá e estamos levando isso para o Brasil todo”.
“Eu gosto muito do meio de teatro de bonecos, as pessoas são muito generosas”.
“Nesse processo sobre Clarice, o André que está trabalhando com a gente na dramaturgia, desenvolve três princípios para pensar a dramaturgia: pulsações, impulsos, disritmia”.
“A gente tem pensado numa dramaturgia dos sentidos, uma recepção que passe pelos 5 sentidos”.
“Falar do Honestino, não é só a morte propriamente dita, são muitas mortes, a morte dele, a morte de um corpo que desapareceu, a morte da memória”.
“O Museu Nacional tem o nome do Honestino Guimarães, mas a Secretaria de Cultura não divulga isso em parte alguma”.
“Acho que blogs e outras maneiras de falar de espetáculos tem provocado uma mudança, feito com que o que é crítica, se torne diálogo”.
“Brasília precisa vencer esse desafio e arriscar temporadas mais longas”.
“Processo Colaborativo não precisa ser uma obrigação/moda de metodologia de trabalho, que bom que tem gente que trabalha em outra perspectiva, não há melhor ou pior, são formas diferentes de trabalhar e criar”.

Por  Francis Wilker

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