quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"ENTREPARTIDAS" E "MIRANTE" NO CENA CONTEMPORÂNEA 2010

O Concreto vem com tudo, no Cena!!!

São duas criações: o espetáculo "Entrepartidas" e a intervenção cênica "Mirante" (Projeto 50 em 5)

Entrepartidas
28 e 29/08, às 19h e 30/08 a 01/09, às 20h
Plataforma inferior da Rodoviária (ao lado do Banco do Brasil)


O espetáculo ENTREPARTIDAS é resultado de mais de dois anos de pesquisa do Teatro do Concreto sobre o tema amor e abandono. A escolha temática foi motivada por essa sensação abafada do cotidiano das grandes cidades onde, tudo, parece escapar, fragmentar e muitas vezes as relações afetivas sofrem processos de desvinculação.
Ao longo do processo de criação o grupo investigou além de referências da filosofia, sociologia e psicologia, as relações entre o teatro e outras linguagens como a intervenção urbana, a dança, a performance e a literatura, sobretudo a obra de Caio Fernando Abreu. Quanto à pesquisa em espaços da cidade, a primeira experiência, realizada em 2008 durante o Festival Internacional de Teatro de Brasília, foi Ruas Abertas, um conjunto de intervenções cênicas em faixas de pedestre e na rodoviária do plano piloto. Além desse experimento, o CONIC, a Rodoferroviária, a Praça do Índio, Praça da 705/6 Sul foram espaços de intensa busca e descobertas.
O resultado desse mergulho vivo no cotidiano da cidade resultou num espetáculo que explora o conceito de trânsito: de um ponto a outro, da vida para a morte e da realidade para a ficção. Nesse contexto, a cidade de Brasília é trabalhada como “palco-cenário-personagem-texto”, numa relação de diálogo com a sua gente e os seus espaços.
Início da noite, a cidade se move como um complexo organismo. É hora do embarque! O público toma um ônibus e viaja pelas ruas de Brasília onde conhece histórias de pessoas que se cruzam numa estrutura fragmentada, cuja dramaturgia brinca com a realidade e a ficção. Personagens que se equilibram no fio do tempo e nos lembram que a vida se realiza no encontro com o outro e que o instante é agora. Um espetáculo que visita o cotidiano para esbarrar, sobretudo, naquilo que é efêmero, chegadas e partidas, saudades, desejos, possibilidades, vidas e mortes. Entrepartidas é um convite a percorrer as ruas de si mesmo.
Criação: Teatro do Concreto
Dramaturgia: Jonathan Andrade
Elenco: Alonso Bento, Gleide Firmino, Jhony Gomantos, Lisbeth Rios, Maria Carolina Machado, Micheli Santini, Nei Cirqueira, Silvia Paes e Zizi Antunes
Elenco Convidado: AdilsonDias, Larissa Calixto, Christiane Cysneiros, Jeferson Alves, Maria Lindete, Mário Luz, Thamiris Saraiva e Samara Maia
Direção Geral: Francis Wilker
Assistente de Direção: Ivone Oliveira
Assistente de Direção de Cena: Aline Seabra
Músico e Diretor Musical: Daniel Pitanga
Desenho de Luz: Diego Bresani
Figurinos e Direção de Arte: Hugo Cabral e Júlia Gonzales
Produção: Neide Nobre
Duração: 2h30min
Classificação indicativa: 16 anos

Mirante
Dias 02 e 03 às 17h30, 04 às 17h30 - Torre de TV
A criação do Teatro do Concreto partiu da investigação de diferentes espaços que dialogam com o imaginário de Brasília: UNB, Vale do Amanhecer, Torre de TV, Galeria dos Estados e Ermida Dom Bosco. Esses espaços foram explorados na perspectiva de geradores de dramaturgia, e as suas “falas” resultaram nas performances e intervenções cênicas que ocuparão a Torre de TV de Brasília.

Ao reler a cidade como texto, instalam-se no espaço situações de encontro e elementos que discutem sua geografia, suas relações, suas proximidades e distâncias, seus encontros e desencontros. A Cidade e seu céu, desejos, símbolos e seus mortos. A cidade e sua memória. A cidade e seus sonhos.
Elenco: Gleide Firmino, Jhony Gomantos, Lisbeth Rios, Micheli Santini, Nei Cirqueira e Zizi Antunes
Direção: Ivone Oliveira
Dramaturgia: Alonso Bento
Ambientação e figurinos: Hugo Cabral
Sonoplastia: Daniel Pitanga
Duração: 60 minutos
Classificação: Livre

Mais informações: Cena Contemporânea 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

SOBRE TECER MEMÓRIAS E BORDAR SONHOS...

Meu nome é Rosa e Rosa é o nome mais safado que tem...
por Aline Seabra.

Antes de iniciarmos as apresentações nos asilos pelo projeto “Tecendo
Memórias e bordando sonhos” muitas eram as expectativas... Será que fizemos a escolha certa? Será que eles irão gostar? Por que apresentar Borboletas? O que queremos com esse projeto? Estamos sendo éticos?... Perguntas e mais perguntas que eu acho que ainda hoje, mesmo depois de várias apresentações, ainda rondam nossas mentes ou pelo menos a minha.
A princípio, confesso, que estava com um sentimento “romântico” de achar que nós éramos muito legais em levar o teatro para eles. Mesmo sabendo que nos propúnhamos a troca ,rolava um sentimento meio inconsciente e vela do de superioridade, como se nós tivéssemos muito mais a oferecer do que a receber. Hoje ainda estou formulando o que penso. É difícil digerir o excesso de informação presente naquelas imagens, histórias, cheiros, vozes, enfim, naquela densidade que só a força do tempo parece poder explicar.
Eu estava nervosa na primeira apresentação, há muito tempo eu não me apresentava. Antes de apresentarmos fizemos uma vivência. Oferecemos lanches em alguns lugares. Tive medo de oferecer algo que fizesse mal para eles, muitos eram diabéticos e não podiam comer de tudo. Deus me livre fazer alguém passar mal por causa de uma Coca não dietética! Cantávamos e conversávamos buscando no pouco espaço de tempo que tínhamos conhecer um pouco daquelas histórias. Cada pessoa tem a sua imagem, a sua forma, mas eles tinham tantas... Rugas, bocas desdentadas, cabelos brancos e pretos, unhas pintadas, colunas envergadas, magreza e gordura excessivas, beleza e feiúra. Cada ruga parecia representar um caminho tão longo até ali, tão cheios de vida porque continham em si a dor e o prazer de estarem vivos.
Cada apresentação teve seu brilho, seu desafio, sua descoberta. Na primeira,
uma das idosas respondia à fala de um dos atores que gritava pela mãe. Ela dizia: Eu estou aqui! Tô aqui... Outra com a cabeça amarrada balbuciava coisas, aparentemente, sem sentido. Uma outra ria bastante. As expressões eram as mais diversas e guardavam segredos que talvez nunca serão revelados. Como será que as imagens eram recebidas por eles? Será que algo os tocou. Espero que sim... Eu fiquei muito tocada, não sei explicar bem o por quê mas fiquei. Bem, vieram outros asilos e com eles outras experiências... Enfrentamos desafios diferentes, apresentamos em lugares diversos... Apertados, com pisos tortuosos, ao ar livre, cobertos, com frio, com calor, com emoção, sem emoção, aquecidos, desaquecidos, tortos e direitos. Acredito que em algumas apresentações conseguimos nos integrar bem ao espaço, já em outras deixamos a desejar.
Em uma das apresentações eu fiquei especialmente emocionada. Lembro que
estava embaixo da cama e deu uma vontade tão grande de amar. Eu estava refletindo e me sentindo em débito comigo mesma. Eu era pequena, pequenininha... Senti uma vontade enorme de estar com os meus familiares. Quis tanto abraçar forte o meu pai e lhe contar minhas fragilidades. Queria que a minha família estivesse embaixo da cama comigo. Tive, ainda, muita vontade de ser mais solidária com as pessoas, inclusive comigo mesma. Queria livrar-me dos meus egoísmos e vaidades ( Da pequenez condição de ser humano).
Tirando as emoções também tinham os meus questionamentos. Olhava para alguns idosos e ficava me policiando para não sentir pena. Eu pensava: Por que será que quando as pessoas ficam idosas todos os seus “pecados” lhe são perdoados? Aquele “velhinho”, hoje indefeso, já fez muita gente sofrer. Foi ruim, traiu, bateu, proibiu, denegriu, mandou alguém pra puta que pariu... E daí? Isso não tem a menor importância. Ficava observando as cuidadoras sempre atentas as dietas e horários dos remédios. Práticas e sem tempo para romances. Nem tudo na vida são flores... Muitas olhavam com desconfiança para a peça. Uma me disse que achou tudo horrível. Como entender uma coisa tão esquisita?! Uma hora é menino, outra hora é homem, uma é prima, depois a mesma uma já é mãe. Que maluquice!
Bem, bom, muita coisa dessas apresentações vai ficar em mim. Foi tão gostoso apresentar para aquelas pessoas, foi um gostoso que eu não sentia a tempos. Por alguns instantes eu revivi o prazer que eu sentia com o teatro quando comecei. Hoje o prazer é diferente... Eu pensava : Que delícia apresentar para essas pessoas que nãosão acadêmicas! Que bom que elas não estudam teatro! Que bom que elas vivem e que eu as conheci! Que bom que eu conheci a dona Rosa que me disse que Rosa é o nome mais safado que tem...